quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

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_Olhou pra mim com cara de desgosto, mas confirmou, fez que sim e veio vindo. Fez-se reto e caminhou sóbrio a destroçar os azulejos riscados do chão de asfalto em passos largos de homem macho. Camisa na mão de veias e músculos pulsáteis, velhos e bem vividos. Cara de cortes fundos de faca afiada e sobrancelha rachada de tanto que, uma única vez em sua vida - afirmava no jeito de olhar - debruçou-se de dentro pra fora.
_Então foi vindo, impetuoso e alto e inatingível, tanto que, às vezes foi por descuido, mas houve um momento em que agachei-me para amarrar as sapatilhazinhas de cristal. Nesse momento, lembro-me dos ouvidos fartos de berros puros e desgarrados, rancou-me os lacinhos cor-de-rosa que mamãe havia feito antes do jantar. E aí eu vomitei.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

ROTINA INA INA

_Vou pro céu, eu sei: parei, pensei pensei pensei. Decidi: voltei, apaguei a luz. Poupei árvores, tatoei a Vale, velho, a Vale e expliquei teorias, o universo e Deus. Sentei no sofá, um copo d'H2O. Terminei e a Coca. Voltei, pensei pensei pensei. Decidi: liguei a TV e a luz apagada.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Contos castros e sem-graça, não desgraçados

_A convivência só era suportável pelos fins enobrecidos: faziam-se ares noturnos todavida sobrecarregados de suor, sebo e suor. Era só insuportável por todo o resto que tremia a perna e pensava em suas várias pessoas - Ás de espadas e de todos os maus hábitos que lhe pertenciam, as pessoas que lhe eram - era o ócio e o era árduo, mas beirava o agradável às dez e meia e meia depois da noitinha, quando calados e belos; aliás, o hábito era estranho, o de suspender o volume de música nenhuma. Quisera aumentar de uivos e quisera sê-lo como os de um porre de inspiração, tanto azedo e cheio de lugares; tanto escasso e insoluto - olhássemos de perto, veríamos as bolhas de oxigênio e a poeira encrustrada nos poros, nos becos e na saliva. O diálogo era sem o ser, e a gasolina nessas horas, sólida.
Presos no peito do pulmão, tragados ao lado do azedume de ter a sensação, fê-los - a biologia o curinga - abdicar descuidadamente do que cada um tinha cuidado, durate toda a sua vida curta, de ser.


(...parte de alguma coisa ou coisa alguma. Que continua...)